Cirurgia para Doença de Parkinson
Volto a escrever sobre Doença de Parkinson (DP) com a grande satisfação de comunicar que o projeto de criar um centro de tratamento cirúrgico para os distúrbios de movimento finalmente se consolidou.
Já estamos com uma equipe multidisciplinar e realizando as cirurgias inclusive pelo SUS no Hospital São Vicente de Paulo em Passo Fundo. Nossa equipe conta com neurocirurgião, neurologista, neuroradiologista, psiquiatra, geriatra, neuropsicólogo, psicóloga e fisioterapeuta e deve aumentar em breve com a inclusão de enfermeira, nutricionista e fonoaudióloga.
(Fazendo um adendo, também aproveito para fazer a comunicação de que o HSVP também foi selecionado entre poucos hospitais do país a fazer parte do programa mundial Sense da Medtronic que irá ajudar na educação sobre dor oncológica. Também já temos a mesma equipe realizando cirurgia para o tratamento da dor crônica e oncológica com as técnicas mais modernas de neuromodulação medular e cerebral)
A DP é uma desordem degenerativa do sistema nervoso central. Ela é crônica e progressiva, isto é, mantém-se por um longo período de tempo e piora durante este período. Sua causa ainda não está completamente entendida e pensa-se que haja uma combinação de suscetibilidade genética e exposição a fatores ambientais que seriam o gatilho inicial para a doença. A causa direta dos sintomas da DP é perda de dopamina que é o neurotransmissor responsável pelo nosso movimento mais delicado e com objetivo. Além da dopamina há perda também da noraepinefrina, que é o neurotransmissor responsável pelo controle do sistema nervoso simpático, assim podem ocorrer os chamados sintomas não-motores como cansaço e alteração da pressão sanguínea, além de distúrbios do sono, constipação, dores.
Mas afinal o que é esta cirurgia? A cirurgia consiste em implantar um eletrodo cerebral em um ponto específico dos núcleos da base do cérebro. Isto pode ser feito em um ou nos dois lados do cérebro, dependendo dos sintomas do paciente. Deste eletrodo saem conexões que são ligadas em um gerador (tipo um “marcapasso”) que fica sob a pele do tórax. É através deste gerador que o médico programa a intensidade de sinal enviado ao cérebro para controlar os sintomas da doença. O nome deste sistema é DBS, sigla em inglês para estimulação cerebral profunda. O objetivo primário do DBS é reequilibrar o circuito cerebral através de uma estimulação elétrica seletiva e reversível do núcleo selecionado, melhorando o déficit neurológico e também comportamental. Ou seja, a pessoa vai ficar mais funcional.
A cirurgia de DBS já existe há mais de 25 anos, mas infelizmente ainda é pouco conhecida. Além da Doença de Parkinson existem outras indicações: distonias (movimentos anormais), tremor, transtorno obsessivo compulsivo, depressão, síndrome de Tourette, epilepsia e já há pesquisa em obesidade, distúrbios alimentares, hipertensão arterial resistente a medicação e cefaleia do tipo cluster. Apesar das maravilhas que este procedimento pode trazer é bom ressaltar que não é uma cura da doença, pois a pessoa afetada ainda precisa tomar medicação e manter o acompanhamento multidisciplinar com fisioterapia, fonoterapia. As principais indicações para a cirurgia são os pacientes com flutuações
Mas infelizmente a realidade em que vivemos é mais complexa e o paciente acaba sendo referido para o especialista quando a doença está muito avançada e uma parcela enorme de pacientes que poderiam se beneficiar deste tratamento acabam não tendo a oportunidade de realizá-lo. Foi com o intuito de minimizar este problema que criamos o centro de referência para a cirurgia de Parkinson e distúrbios de movimento que também atinge a grande parcela da população usuária do SUS. Agora é necessário conscientizar e educar os médicos e a população para que haja o encaminhamento em tempo hábil para o tratamento.
Dr. Diego Cassol Dozza – neurocirurgião