Cirurgia para tratamento do Parkinson traz qualidade de vida para pacientes
A Doença de Parkinson é um distúrbio neurodegenerativo do sistema nervoso que causa a morte de neurônios produtores da substância dopamina, que atua regulando os movimentos do corpo, nos chamados núcleos da base do cérebro. Isto, resumidamente, acaba por deixar a pessoa com tremor, rigidez e movimentos mais lentos. Estes sintomas dificultam o dia a dia de quem convive com o problema, impedindo que faça pequenas tarefas, como tomar água, se alimentar, trabalhar entre outros.
Mas, com o avanço da medicina neurológica, a cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda (DBS), surge como uma opção na vida desses pacientes. Ana Maria Padilha Delasanta, 60 anos, de Palmeira das Missões, convive com o Parkinson há oito anos. Os remédios já não fazem mais efeito esperado para ela. Com o passar dos anos, a mulher sempre ativa viu sua qualidade de vida sendo perdida. “A mãe sofria muito com tremores porque além de não conseguir fazer as coisas, ela ficava cansada, com dor, já não conseguia mais dormir”, relata Juliana Delasanta, filha de Ana.
Na terça-feira, 27 de agosto, Ana realizou o procedimento, que foi feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pela primeira vez no interior do estado. O neurocirurgião do Corpo Clínico do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo, Dr. Diego Cassol Dozza, junto do neurocirurgião, Dr. Alexandre Reis do Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre, e a equipe de Enfermagem foram responsáveis pela cirurgia que teve duração de cinco horas. Vamos destacar o empenho do Hospital São Vicente de Paulo em tentar implementar a partir de agora esse tipo de cirurgia.
O procedimento de alta complexidade, segundo Dr. Dozza, consiste em implantar um cateter/eletrodo cerebral em um ponto específico dos núcleos da base, que pode ser em um ou nos dois lados do cérebro, e conectar em um tipo de “gerador” que fica sob a pele do peito. É através deste gerador que o médico programa a intensidade de sinal enviado ao cérebro para controlar os sintomas da doença. “Há várias medicações e combinações possíveis para o auxílio do tratamento do Parkinson, mas em determinado momento pode ocorrer efeito colateral, falha da medicação ou a própria progressão da doença com outros sintomas de mais difícil controle. É neste momento que surge a indicação da realização da cirurgia”, explica o especialista.
A cirurgia de DBS já existe há 25 anos e há mais de 80 mil cirurgias em todo o mundo, gerando uma publicação científica de nove mil publicações sobre distúrbio de movimento e três mil de Parkinson. “O objetivo primário do procedimento é reequilibrar o circuito cerebral através de uma estimulação elétrica seletiva e reversível do núcleo selecionado, melhorando o déficit neurológico e também comportamental. Ou seja, a pessoa vai ficar mais funcional”, esclare Dozza, destacando o empenho do Hospital São Vicente de Paulo para implementar a cirurgia e a parceria com a Medtronic, empresa que disponibiliza os equipamentos.
O procedimento minucioso e delicado foi realizado com a paciente acordada, pois com isso, é possível perceber a melhora dos sintomas durante a cirurgia. Ana colaborou com o procedimento respondendo às perguntas dos profissionais. “Durante a cirurgia fizemos os testes com a paciente acordada e ela teve melhora do tremor e rigidez, sem efeitos colaterais. Ela segue na recuperação pós-operatória e em 20 dias o gerador ou “gerador” será ligado”, enaltece Dr. Dozza. “Lembro das perguntas que foram feitas durante a cirurgia. A psicóloga disse que fui muito corajosa e bem, auxiliando os médicos”, relata a paciente.
A cirurgia correu bem e Ana recebeu alta na quinta-feira, 29. “Tivemos o resultado que esperávamos. A equipe, médicos, instrumentadores, anestesista, estava muito concentrada para que saísse perfeito, pois nessa cirurgia os detalhes são fundamentais para o sucesso”, declara Dozza. Para Ana e a família, a cirurgia é a esperança de dias com mais qualidade. “Agora é esperar a recuperação e os resultados. A mãe é jovem e estava sofrendo muito com os tremores. Com certeza, isso vai trazer uma vida muito melhor para ela”, pontua Juliana.
Apesar do resultado muito positivo, Dr. Dozza, enaltece que a cirurgia não é uma cura da doença, pois a pessoa afetada ainda precisa tomar medicação e manter o acompanhamento multidisciplinar com fisioterapia, fonoterapia. “As principais indicações para a cirurgia são os pacientes com flutuações motoras, discinesias (movimentos lentos), tremor e síndrome da desregulação dopaminérgica. O candidato perfeito para a cirurgia é aquele com menos de 70 anos, com no mínimo quatro anos de doença, que apresentou boa resposta às medicações, sem alteração cognitiva, que apresenta efeito colateral da medicação e que tenha bom entendimento sobre o procedimento”.
Foto: Ana ficou acordada durante o procedimento para que os eletrodos fossem ajustados (Foto Assessoria de Comunicação HSVP\Caroline Silvestro)