Fevereiro foi o mês de conscientização do Alzheimer. Você sabe o que a Neuropsicologia tem a contribuir?
O envelhecimento populacional observado nas últimas décadas trouxe aumento da incidência de doenças neurodegenerativas e, entre elas, destaca-se a doença de Alzheimer (DA) que é o tipo de demência com maior incidência, sendo também a mais estudada.
Tradicionalmente sempre houve mais grupos de suporte e informação para familiares e cuidadores de pacientes com doença de Alzheimer (DA) do que para os próprios pacientes. Entretanto, com o aumento do número de diagnósticos de DA em sua fase inicial, esta realidade está se modificando.
Cresce a demanda por tratamento tanto medicamentoso como comportamental para esses pacientes. A reversão da deterioração causada pela DA ainda não está clinicamente disponível, embora existam várias pesquisas e tratamentos experimentais, os tratamentos disponíveis atualmente visam à melhora cognitiva e diminuição de sintomas comportamentais. Isso é alcançado por meio de medicação e técnicas cognitivas de reabilitação, além de informações sobre a doença e o apoio a familiares e cuidadores.
Evidências da literatura mostram que o treino da memória em pacientes com DA leve a moderada produz resultados promissores, pois esse tipo de tratamento promove melhora da memória explícita e se estende para habilidades funcionais temporariamente. Neste sentido a Reabilitação Neuropsicológica (RN), mostra-se um tratamento especialmente útil diante da doença de Alzheimer, visto que consiste em uma estratégia de intervenção que pretenda capacitar os clientes-pacientes e suas famílias a conviver, gerenciar, contornar ou lidar nos déficits cognitivos causados por uma lesão cerebral (Wilson,1997[1]).
É um processo ativo, que envolve paciente, familiares e profissionais visando capacitar o idoso ao mais alto nível de adaptação física, cognitivas, emocional e psicossocial possível. Dessa maneira, a reabilitação implica maximizar funções cognitivas por meio do bem-estar psicológico, da habilidade em AVD (atividades de vida diária) e do relacionamento social. A RN vai além do treino cognitivo, é um tratamento biopsicossocial que envolve os pacientes e suas famílias levando em conta as alterações físicas e cognitivas de cada paciente, o ambiente em que vivem, os fatores subjetivos e a sua biografia.
Desta forma utiliza-se se instrumentos, jogos e técnicas para treinos cognitivos (da memória, atenção e linguagem principalmente) e também atividades ecológicas que utilizam aspectos da vida do paciente. Além das atividades em consultório, são prescritas tarefas para serem realizadas em casa e também podem ser combinadas sessões de reabilitação em outros locais como praças, clube, supermercado ou onde quer que seja importante e possível para o paciente conquistar mais funcionalidade.
Especialmente com os idosos também são planejadas técnicas compensatórias para aquelas habilidades que não podem mais ser recuperadas (principalmente para a memória), trabalhadas as questões emocionais inerentes ao envelhecimento e passadas orientações para familiares e cuidadores a fim de buscar o maior nível de independência, funcionalidade e bem estar possível.
[1] Wilson, B. A. (1997). Cognitive rehabilitation: How it is and how it might be (Critical Review). JINS, 3, 487-496.
Márcia B. Amaral – Neuropsicóloga Especialista em Neuropsicologia pela FADERGS e pelo Conselho Federal de Psicologia.
Professora Neuropsicologia SETREM
Neuropsicóloga da Neurovasc Palmeira das Missões e Espaço Interdisciplinar Ijuí