O Médico, o Louco e a Anatomia dos Sentimentos
Sim! Os sentimentos têm um “físico”, e essa “anatomia” dos sentimentos pode ser expressa no corpo e sabe-se que muitas doenças orgânicas têm origem no emocional, principalmente a ansiedade e a depressão, dois transtornos que têm aflorado muito nesse tempo de isolamento social.
Também se sabe que muitas pessoas não conseguem lidar, ou ainda não aprenderam a lidar, com esses sentimentos conflituosos, angustiantes e sufocantes. Então, quando não conseguimos falar aquilo que nos aflige, o corpo fala por nós, através de uma dor de cabeça, de uma dor muscular, na dificuldade de respirar, de uma azia, dor de estômago, etc.
E, nos últimos meses, tem sido abordada com tanta ênfase a temática da saúde mental, principalmente dando ênfase às questões de quarentena e de confinamento dentro de um mesmo ambiente por um longo período de tempo e de seus reflexos na qualidade de vida, econômica e social de cada família. Por isso, é importante que amigos e familiares estejam atentos para com seus entes queridos, principalmente os que se enquadram no grupo de risco, se estão apresentando algum sintoma ligado à ansiedade e depressão.
Além disso, se pode entender que a base da maioria dos sentimentos tem a ver com o tempo, o quanto de tempo iremos nos dedicar ou que vamos deixar o nosso cérebro se preocupar com determinado sentimento. Podemos sim, controlar nossos pensamentos e nossos comportamentos, direcionando-os para um estado de conforto e aprender a lidar com tudo isso. Mas é preciso saber identificá-los como bom ou ruim em determinado momento da vida.
Por tanto, vamos começar a refletir mais sobre tudo o que está acontecendo. Vamos tentar ver o que há de positivo no meio de tantas notícias falsas, de tantos argumentos, de tantos sentimentos misturados. E para isso, é importante acharmos estratégias para combater essas doenças, realizando mudanças de hábitos saudáveis e seguindo algumas dicas:
1 – Filtre informações sobre o assunto. Tente não entrar em discussões sobre aquilo que te deixa extremamente desconfortável ou mais irritado. Tente não deixar o noticiário ligado ou acessar páginas de notícias o tempo todo.
2 – Leia livros e assista filmes ou seriados para ajudar a “fugir” um pouco da realidade, dê preferência à materiais de ficção ou literatura em geral. Mas tente fazer isso sem outras preocupações em mente.
3 – Pratique atividades físicas, hoje em dia muitos profissionais da área da educação física têm disponibilizado material audiovisual e bem didático na internet para demonstrar exercícios e como fazê-los em casa.
4 – Mantenha contato com as pessoas, mesmo online ou por telefone, com seus familiares e amigos. Também há muitos recursos online para realizar reuniões e manter contato com várias pessoas ao mesmo tempo.
5 – E, principalmente, mantenha a calma, tente manter uma rotina diária, mesmo estando em casa é importante manter atividades diárias, não ficar de pijamas o dia inteiro, manter horários das refeições e elaborar um cronograma para todas essas atividades.
E o mais importante de tudo, fique “louco”. Sim! Você tem todo direito de em algum momento dar uma “surtadinha”; grite, esperneei, pule, quebre um prato, xingue. Mas depois volte às dicas que foram dadas antes ok? E lembrando Raul Seixas: “Vou ficar, ficar com certeza maluco beleza, eu vou ficar, ficar com certeza maluco beleza”.
Por fim, conte com a ajuda de profissionais da área da saúde mental, procure um psicólogo ou um psiquiatra em caso de dúvidas ou de estar se sentindo mal. Não tenha medo de demonstrar seus sentimentos, de achar que está “enlouquecendo”, pois tudo isso é normal para o atual momento que vivemos. Conte com seus amigos e familiares para te ajudar, peça ajuda sim, não há nada de mais em pedir ajuda, pois, sozinhos, não conseguimos resolver todos os problemas que nos atingem, nem vamos conseguir.
Anderson Cassol Dozza – neuropsicólogo