O setembro Amarelo e a felicidade
Chegamos ao final de setembro e com ele encerramos a nossa série de artigos sobre o Setembro Amarelo, período que serviu para conscientizar e orientar as pessoas sobre o combate ao suicídio. Neste último artigo a psicóloga Márcia Baiocchi Amaral aborda a neurociência da felicidade e como essa felicidade pode ajudar na prevenção
Podemos abordar o conceito de FELICIDADE de inúmeros pontos de vista: da Filosofia, da Psicologia, da Teologia, da Antropologia, da Sociologia e das neurociências, para cada Ciência existe uma resposta, um conjunto de condições e diferentes abordagens. Para Aristóteles, a felicidade é vista como o conjunto de dois elementos: hedonia e eudaimonia. Sendo a Hedonia a sensação de prazer em si; Já eudaimonia pode ser traduzida como ‘uma vida bem vivida’ – o que significa que a pessoa realiza ações e trabalhos que ela julga serem valiosos. Esses dois conceitos possuem mais de 2300 anos e permeiam a definição de felicidade até hoje. Um estudo de 2007 observou que a maioria das pessoas que se auto reportou feliz, possui tanto uma alta hedonia quanto uma alta eudaimonia. Por mais que cada ciência tenha diferentes pontos de vista e diferentes escopos teóricos para explicar a felicidade, todas tem um ponto em comum: Felicidade trata-se de uma coletânea de momentos “especiais” ou “perfeitos” e não de uma condição permanente. Portanto não se trata de SER mas de ESTAR feliz!
Para as neurociências as emoções que sentimos, como a alegria e a tristeza, são frutos de uma combinação causada por importantes e incríveis neurotransmissores no nosso cérebro: Ocitocina: Endorfina, Dopamina, Serotonina, Noradrenalina. Já a felicidade acontece quando emoções positivas se combinam com um senso de satisfação pessoal em áreas do cérebro como pré-cúneo e no estriado ventral. Mas a pergunta das neurociências não é exatamente como acontece a felicidade, mas sim como a fazemos acontecer???
Um famoso estudo da Universidade de Minnesota mostrou que do 50% do que chamamos felicidade está relacionado com herança/ Influência genética, apenas 10% está relacionado com coisas que nos acontecem (como tragédias, ou adquirir bens materiais, ou casar-se etc.). Já 40% está relacionado com nossa Intencionalidade – Ou seja como nós agimos, os hábitos que cultivamos (Lykken e Tellegen, 1996). O que invariavelmente nos leva a questionar: O que fazemos intencionalmente para buscar a felicidade? Que hábitos estamos cultivando? Que pensamentos estamos cultivando?
As neurociências já nos ensinaram, que aquilo que mais cultivamos/usamos torna-se um AUTOMATISMO COGNITIVO (ou seja um comportamento preponderante que fazemos quase no piloto automático) já as conexões que não usamos tendem a desaparecer, devido a propriedade neuronal de perda de função e atrofia das sinapses por falta de uso (Izquierdo, 2018). Ou seja, as nossas experiências remodelam nossos cérebros e nossas conexões neurais, literalmente podem mudar nossos sistemas nervosos. Isso acontece tanto para o bem quanto para o mal. Isso chama-se PLASTICIDADE! A felicidade não aparece de repente, mas nós é que devemos criar o hábito de ser pró-ativo e trazer a felicidade para a nossa vida! Por isso quanto mais cultivamos hábitos de felicidade, mais plasticidade fazemos, mais reforçamos esse circuito e mais felizes somos!! Nessa toada vários hábitos são elencadas na busca por emoções positivas, contudo existem dois que são um consenso, uma base para a felicidade: Vínculos sociais fortes e ter um propósito para se dedicar!!!!!
Mas aí você que dedicou seu tempo para ler até aqui, deve estar se perguntando o que isso tem a ver com o setembro amarelo e prevenção ao suicídio? Emoções positivas melhoram a saúde física, fomentam a confiança e a compaixão, e compensam e/ou amortecem os sintomas depressivos. Pesquisas mostram que pessoas felizes têm maiores chances de se casar e ter um casamento pleno e duradouro; ter mais amigos e poder contar com eles; ser mais criativo; ser mais produtivo e ter um melhor desempenho na vida profissional; ter renda maior e mais resiliência para lidar com as situações adversas da vida, assim como ter uma saúde física e mental boa e maior longevidade.
Portanto nesse texto buscamos fortalecer menos nossos circuitos neurais ligado ao tema suicídio, e mais aqueles LIGADOS A VALORIZAÇÃO DA VIDA!! E nesse sentido, acreditamos que as emoções positivas, o buscar e o estar feliz seja uma das melhores formas de prevenção.
Desejamos que todos possam, cultivar seus vínculos e propósitos para sentirem-se felizes em setembro e no resto do ano. Mas se por algum motivo você não está conseguindo buscar sua felicidade sozinho, não hesite, busque ajuda! Prevenir é sempre a melhor solução! Pois 400 anos depois da célebre frase, sabemos que Shakespeare não estava sendo apenas metafórico quando disse que “Somos feitos da mesma matéria dos nossos sonhos”!
Carpe diem!!
Márcia Baiocchi Amaral
Psicóloga CRP 07/13656
Especialista em Intervenções Psicossociais, Preceptoria em Saúde e Neuropsicologia.
Psicóloga SMS Ijuí. Neuropsicóloga Vitae e Espaço Interdisciplinar
Docente de Neuropsicologia SETREM