Redes Sociais e Neuropsicologia: A Saúde Real no Mundo Virtual
Recentemente participei do programa da jornalista Livia Nonnemacher na Tv Passo Fundo falando sobre as redes sociais (Tik Tok, Instagram e Facebook) e acredito que seja mais do que urgente retornarmos essa discussão para refletirmos de quanto estamos fazendo mal para nosso cérebro com o uso descontrolado das redes sociais. Falo no plural porque me coloco como um usurário mediano dessas redes e, talvez, não utilize de maneira mais adequada, sendo necessária uma reflexão em conjunto.
O uso prolongado ao conteúdo extremamente rápido de certos aplicativos (Tik Tok, Intagram, Facebook), pode causar diversas consequências tais como: Dificuldades de atenção, concentração e memória; Alteração do sono; Ansiedade e depressão; Dificuldade de controle dos impulsos, da capacidade de resolver problemas do dia a dia; Diminuição do raciocínio e QI, dentre outros.
Além disso, já foi criado até um nome para aqueles que estão viciados no celular, chama-se Nomofobia, que é o medo de ficar sem celular no seu campo de visão. Além disso, muitos podem sentir o celular vibrando no bolso mesmo que ele não esteja lá, ou ter que checar o celular várias vezes para ver se não tem mensagens ou notificações novas, ficar sem internet em algum lugar sem acesso e ficar angustiado e ansioso, tudo indica que a pessoa possa estar desenvolvendo esse transtorno.
Mas todo esse sistema de funcionamento tem relação com a dopamina, um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer, que percorre um circuito cerebral desde a área tegmental ventral até o córtex pré-frontal onde estão as principais funções relacionadas ao controle inibitório, resolução de problemas, tomada de decisões, atenção, planejamento e organização. Também, esse circuito cerebral tem relação com a sensação de bem-estar, satisfação também conhecido como sistema de recompensa.
As drogas alternam a forma como o cérebro lida com o prazer, incentivando o uso cada vez mais frequente. Por exemplo, tomar um sorvete num dia quente, alivia o calor e tem o mesmo circuito cerebral do funcionamento das drogas. Num cérebro normal, esse sistema de recompensa está adequado ao raciocínio lógico de que, quando eu me saciar, deverei parar de comer sorvete. Num cérebro “viciado”, a droga (tik tok, facebook, instagram), vai atuar como um hacker e incentivar que o usuário faça mais uso do aplicativo, ou seja, substitui a necessidade natural por uma necessidade de drogas. Por isso que, quem experimenta uma droga a primeira vez e, por algum motivo poderia ter já algum déficit ligado às funções executivas, poderia viciar mais rapidamente e repetir o comportamento várias e várias vezes.
Além disso tudo, falamos também dos transtornos mentais, que acabam aumentando com a exposição sem critérios de pessoas que estão com algum sofrimento e tentam “desabafar” nas redes sociais, acreditando que ali encontrarão apoio. Pois, do contrário, há muitas pessoas que não estão interessadas nesse tipo de conteúdo e banalizam as doenças psíquicas sem nenhum grau de empatia.
Também, há necessidade de cuidar de que forma as crianças e os adolescentes estão acessando os conteúdos na internet. Sabe-se que este é um período da vida em que o cérebro e a personalidade ainda estão em desenvolvimento. Qualquer exposição que crianças e adolescentes sofrerem poderá, de alguma forma, interagir positiva ou negativamente em sua formação adulta.
Mas vamos com calma, também há um lado positivo nisso tudo, as pessoas conseguem se aproximar mais umas das outras, mesmo morando do outro lado do mundo, há maior capacidade de buscar conhecimento e cultura, fazer cursos online sem sair de casa, fazer compras virtuais e, mesmo na pandemia, realizar trabalho de casa.
Claro que não podemos culpar 100% as redes sociais, pois quem controla, ou deveria controlar seu uso somos nós mesmos. As redes sociais não são a causa, mas o seu uso em demasia, sem supervisão, podem ser um fator estressor que cause gatilho para pacientes com ou sem comorbidades psiquiátricas prévias.
Devemos nos preocupar sim com o uso em demasia e sem controle das mídias sociais, para que isso não se torne uma nova pandemia mundial. O autocontrole de impulsos, a forma como nos relacionamos com o celular e nos expomos na internet só depende de cada um.
Por isso é importante prestarmos atenção nos nossos comportamentos, principalmente das crianças e adolescentes, bem como alterações de humor muito rápida, falas desordenadas, dificuldades na aprendizagem, impulsividade na realização de tarefas e dificuldade de realizar atividades simples. Se os pais perceberem alguma coisa fora do normal da rotina de seus filhos, procurem ajuda e orientação de um profissional da saúde mental (Psicólogo e Psiquiatra).
Anderson Cassol Dozza
neuropsicólogo