Ser Psicólogo: Coisa de Louco?
Dia 27 de agosto se comemora o Dia do Psicólogo, profissão a qual escolhi e exerço a mais de 15 anos, com paixão é sempre aprendendo. Mas quero compartilhar com vocês algumas angústias e, também, alguns questionamentos, pois refletir é essencial para amadurecermos e aprendermos.
Ser psicólogo num mundo sombrio e limitante é uma tarefa frustrante as vezes, carregada de incertezas e travando uma batalha entre a razão e a emoção. Nesse cenário o psicólogo é colocado num espaço obscuro entre a ciência e a bruxaria. Lembremos que as bruxas eram queimadas na época da Inquisição, ainda bem que hoje existem outras formas de destruir aquilo que não se entende através das pseudociências e métodos sem nenhuma comprovação científica.
Antes da psicologia surgir, éramos seres invisíveis, principalmente aqueles com algum transtorno mental. Os pacientes eram enjaulados, acorrentados, desprovidos de suporte mental e desconectados do mundo e das outras pessoas. Pensar diferente era considerado pecado, era “coisa do diabo”, a perda da realidade mostrava uma face da sociedade assustada e perdida, “se não tem tratamento então vamos prender, esconder e fingir que não existe”.
Mas algo, hoje em dia, não está realmente sendo pensado como deveria ser. Se a psicologia venho para dar uma luz à época das trevas, nos ensinando que uma pessoa com transtorno mental não tem que estar enjaulada para se tratar, por que ainda se questiona a capacidade e competência da psicologia? Por que muitos dizem que ir na psicoterapia é “coisa de louco”? Por que os testes psicológicos estão sendo questionadas como material didático para toda população ter acesso, se o profissional da psicologia precisa fazer anos de estudos e especializações para ter acesso a tal material? Por que questionar e (pré)julgar a Psicologia na sua essência torna-se divertido para alguns?
Para aqueles que não conhecem a Psicologia, o fato dela existir é simplesmente esse: de se questionar a pessoa quanto ao seu lugar no mundo, de suas capacidades, habilidades e competências, de sua condição de se auto gerir e ser suficientemente bom naquilo que faz, de buscar mudanças em seu mais íntimo, de ser capaz de se suportar ao mesmo tempo que tenta se libertar das más escolhas do outro, dos olhares do outro, dos julgamentos e críticas que lhe fazem de maneira impulsiva e desrespeitosa.
A Psicologia traz consigo aquilo que o ser humano deixou de ser ou acreditar, coisas ou pessoas, eventos ou momentos, traumas ou oportunidades, e porque não, liberdade, amor, inspiração, saudades, encantos, frustrações, desejos, prazeres, empatia, confiança, alegria e tristeza. Pois isso tudo representa a Psicologia, a química perfeita que enlaça o ser humano num todo, que não se satisfaz apenas com um por que, mas sim, com todos os porquês daquela pessoa sentada na frente do psicoterapeuta e o motivo dela estar ali sofrendo ou contando algo que é importante para ela.
Às vezes é difícil ser um psicólogo num mundo de “loucos”, mesmo sabendo que a loucura tem múltiplos significados, depende de quem é o louco e de como é vista a loucura. Pensemos em Joana D’Arc, uma guerreira francesa que hoje é considerada santa pela igreja católica, mas que ouvia vozes, tinha alucinações e, provavelmente, sofria bastante com isso. Imagino se tivesse psicólogo naquele tempo, como falei antes, queimaria junto na fogueira.
A loucura sempre esteve presente na humanidade, assim como a saúde mental. Pensar em saúde mental é ressignificar a loucura e colocá-la no seu devido lugar, não nas masmorras e hospitais psiquiátricos, mas sim, na sala do psicólogo e do psiquiatra. É dar o devido valor para qualquer pessoa que esteja em sofrimento psíquico e poder recuperar um pouco do que lhe cabe de consciência e razão. Claro que não é tão simples assim, sejamos sinceros a ponto de nos permitir aceitar os limites de cada um, inclusive da própria ciência.
Aquilo que se nega não desaparece, apenas se camufla, e é papel do psicólogo trazer à tona tal sofrimento para fortalecer o indivíduo e ensiná-lo a se defender daquilo que lhe causa algum mal. O psicólogo serve como um farol, iluminando o caminho dos navios perdidos e indicando a rota mais adequada, mais saudável onde o navio vai atracar.
Nesse novo dia dos psicólogos, desejo a cada colega que tenha tranquilidade para enfrentar os mares agitados, que tenha responsabilidade em direcionar o caminho mais adequado a seus pacientes, que tenha empatia para comemorar as vitórias e abraçar as derrotas do paciente, que seja confiante em suas atitudes e que tenha sabedoria e conhecimento suficientes para servir de porto seguro àqueles navios partidos.
Anderson Cassol Dozza – neuropsicólogo