Tratamento da dor crônica
Realizei há alguns dias uma cirurgia para implante de um neuroestimulador medular (SCS – spinal cord stimulation – em inglês). Não que isso seja novidade, pois ocorre há vários anos pelo mundo afora. O que é novidade é a nova tecnologia empregada nesses novos geradores e também a necessidade de expandir o conhecimento, pois essa opção terapêutica não é muito conhecida do público em geral.
A indicação desse procedimento é para pacientes que apresentam dor neuropática, como a que ocorre na hérnia de disco, permanência de dor após cirurgia de coluna e nas chamadas dores mistas, como na angina cardíaca. A função do neuroestimulador é criar um bloqueio da dor através do mecanismo de “gate control”, ou seja, cria um estímulo como se fosse um formigamento ou pressão que faz com que a dor seja “mascarada”. Essa nova geração de neuromodulador permite com que o controle da dor do paciente seja também auxiliado através da geração de relatórios que o gerador implantado envia ao médico, de modo, a mudar de uma dor subjetiva para um controle e gerenciamento objetivo da dor. Ele também tem um sensor de movimento (igual aos utilizados nos smartphones para jogos) que permite identificar em que posição o paciente se encontra e por quanto tempo, permitindo uma análise individualizada de cada paciente.
Essa técnica é utilizada no momento em que ocorre falha do tratamento clínico com medicações e fisioterapia, sendo realizada quando não há uma causa cirúrgica específica que necessite ser corrigida. (como uma estenose do canal lombar, um tumor medular, etc). Os benefícios são poder realizar várias programações através de um “tablet” (programador) sem ter que reintervir no paciente, ocorrendo através de uma comunicação wifi”. Assim, é possível realizar várias programações para que o paciente possa escolher a que melhor se adapte em determinada situação. Isso ocorre através de um controlador (tipo um celular) que fica em posse do paciente e permite realizar algumas alterações na programação liberada pelo médico. Logo após o término da cirurgia o gerador é ligado e mantido em um protocolo inicial de funcionamento. Posteriormente é realizado um mapeamento do paciente para saber qual o melhor programa a ser utilizado.
A técnica, de uma forma geral, é utilizada em pacientes com dor crônica do tipo neuropática ou dor mista. Para outros tipos de dores, como a oncológica, existe a possibilidade da implantação da bomba de infusão. Esse aparelho é deixado sob a pele do abdômen e conectado a um cateter que libera a medicação direto na medula do paciente. Pode ser utilizada a morfina intratecal (utilizada pra dor) e o baclofeno intratecal (que é utilizado para espasticidade – contratura que ocorre após o AVC, esclerose múltipla, paralisia cerebral). Os resultados são muito bons e o paciente é mantido com uma dose podendo ser 300 vezes menor que a utilizada pela via oral.
Uma outra opção é a utilização do DBS (deep brain stimulation ou estimulador cerebral profundo). Neste caso é colocado um cateter dentro do cérebro e um gerador implantado no tórax do paciente. Para a dor ainda há pesquisas em desenvolvimento. Mas na doença de Parkinson é utilizado há vários anos com resultados excelentes. Também é utilizada no controle da discinesia (movimentos anormais dos membros ou tronco) e tremor essencial intratável. Vale lembrar que na doença de Parkinson essa técnica não é utilizada como último recurso e, sim, quando começa a ocorrer falha no controle adequado dos sintomas ou efeito colateral dos mesmos, sendo utilizada com melhor resultados em pessoas abaixo dos 70 anos de idade e com mais de 4 anos de doença.
Assim, hoje existem muitas soluções para amenizar o sofrimento da dor e distúrbios do movimento. Sempre que tiver dúvidas consulte seu médico para obter informações. E gosto de encerrar citando Tim Hansel: A dor é inevitável; o sofrimento opcional.
Dr. Diego Cassol Dozza – neurocirurgião